10.8.08

O Protótipo Fantasmal do Belo


1993. Na primeira segunda feira de cada mês a “crise dos paradigmas modernos” recebia seu banho ácido em emulsões Baudrillardianas ¹ sob a forma dos artigos-ensaios que assinalaram a colaboração do implacável crítico/escritor/sociólogo ao arrojado Liberátion² parisiense. Assistía-mos pois, talvez ao último espernear do velho mundo apontando suas baterias intelectuais em direção à decadência do homem que - saia de cena– está melhor comentada na théorie ironique do mestre francês do que no devaneio pró-imperialista de um Francis Fukuyama³ decretando o fim da história. “O homem acaba antes” – revelaria em tom de desabafo a moiçola à entrevistadora durante uma dessas enquetes de rua sobre a crescente insatisfação da mulher moderna em sua intimidade conjugal. Espiritualidade suína à parte, o ponto de relevância na piada é que não considera-se equívoco compartilhar do olhar melancólico de “nossa amiga” se atentássemos ao que diz Boudrillard em seu Tela Total ... mito-ironias do virtual e da imagem*. Estamos desaparecendo.

Embora aspiremos à um patamar de diversificação da matriz energética ainda é pela possibilidade sintética que se deixa seduzir nosso “ Florão da América”. Evidências? Seguramente, tratam-se menos do fato de pleitear-mos uma cadeira na Opep** senão as que indicam um consumo massivo de implantes de silicone que abarrotam os leitos cirúrgicos à perder de vista.. O onanismo-cyber rende diariamente tubos de euro-cifras à silimanequins do quilate de Ângela Bismark que prótese aqui, prótese ali, revive a saga do ser artificial re-criado a partir de recortes humanos na novela de Mary Shelley. Nossa Angelstein

evidencia uma inexorável sintomática da pós-modernidade

A SUPREMACIA DO CORPO COMO OBJETO DE CULTO encontra em nossos dias motivações estranhas àquelas da antiguidade clássica aonde sequer os selectos círculos gays atenienses contestariam a realeza das dimensões totêmicas no “corpinho” da portentosa Afrodite. Das febris investidas de Rodin contra o rochedo afim de extrair dali a exuberância formal que sacralizou seu explêndido estudo da anatomia às alegoria protética do cirurgião plástico moderno revela a sujeição da façanha artística à sua reprodução em escala industrial tal o preconizou o formidável Walter Benjamim em “ A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica.”

No imenso tabuleiro do tempo, as peças que encontram-se passíveis de substituição são aquelas advindas da iconologia imagética que originaram o gosto na antiguidade. A apuradíssima silimanequim descende mais diretamente dos mitos cotidianos da cultura de consumo da categoria de Barbies e Suzies, do que da Vênus crepuscular egressa de sua concha, modelo institucional do belo que causou rubor mesmo nas mais experientes cortesãs durante o renascimento. Ao mancebo que não apetece o afetar narcisista da metrossexualidade resta aferir a proveniência e as condições de estoque de sua musa. Os novos desconfortos da paixão podem representar algo no tipo de um “ Made In Paraguay

impresso nas costas da prometida. Afinal de contas, sob o julgar do leigo ,Barbie pde ser “tudo igual”. Nas bocas: Chiclete de pimenta só não é péssimo porque é pessimista.

Imagem: Título " 20%"- fotocomposição. Gorpo, 2006.

Um comentário:

Unknown disse...

É, a decadente geração que se preocupa apenas em PARECER e esquece o que é SER. gosto muito desse teu texto! :)