23.2.09

Peter Witkin para Colorir


A era democrática tem por orígem do gosto, constantes formais que -hegemonicamente - apontaram para um polo emissor do belo: o Renascimento. A presença do grotesco na arte choca por propor um contrafluxo ao que era regra. Provavelmente Goya tenha rolado a pedra. Se hoje a "transgressão do belo" representa um franco desafio aos nossos condicionamentos perceptivos, a arte por sua vez, pode não necessariamente " parecer com arte". A retina dos medias esbarra nessas tendências, geralmente incorporadas à cultura em detrimento à resistência que encontram nos seus cidadãos de bem. Com efeito, numa sociedade incapaz de superar suas contradições, o estímulo visual analgésico surge refrescante à cada dia e perpetua-se à medida que fabrica nossos hábitos de consumo. Posso não gostar das inflexões de Joel Witkin, porém me incomoda mais a idéia de que um gosto particular, por mais requintado que queira ser, venha a legitimar o instrumento crítico capaz de problematizar o procedimento artístico . A cultura produziu a neurose, Witkin arranjou-lhe significados sensíveis.

6 comentários:

Anônimo disse...

Muito mais fácil a digestão de uma estética pré-fabricada, ajustada aos moldes da Cosmopolitan. O outro lado não é bem quisto nem bem visto. O culturalóide atual sorve litros da arte dita como "bonitinha", quem sabe justamente para abstrair-se do "dark side" nosso de cada dia.
Resumindo a análise deles:
Não tem flor, não tem cor, não tem sol nem um corpo escultural; é feio, meu caro, é feio!

Fabrício Gorpo disse...

Eu sempre entendi essas relações como um círculo vicioso infinito. A cultura produz a neurose, que por sua vez gera outra cultura, que aponta o que é "o belo", que nada mais é do que uma convenção entre as pessoas, que gera outra neurose... E assim sucessivamente. Mas sei lá, vai ver isso é que é legal na arte, aí que eles ganham dinheiro, hahaha.

Fabrício Gorpo disse...

Ah, já ía esquecendo. As coisas existem no seu tempo, a arte, tal como se apresenta, não deve ser apreciada/analisada sob um olhar renascentista, mas muitas pessoas tem dificuldade para entender isso e é aí onde mora o perigo. Isso faz parte do processo e sempre vai existir, mas seguinte, se um crente da universal vem trocar idéia comigo no busão eu saio de perto, saca?
:)

BLOB disse...

E ai, muito legal teu blog, vou coloca-lo nos meus favoritos do meu humilde e despretencioso blog (sem nenhuma autorização prévia, óbvio) o endereço do meu blog é blogdoblob.zip.net, se puder dar uma olhada ficaria grato. Por enquanto um abraço

Muñoz disse...

...magnífico!!!

a. disse...

Toda a tentativa de subversão da idéia de arte comum - de que arte é algo essencialmente belo - é válida. O grotesco, no caso, me é muito mais familiar e comunicativo que qualquer expressão de beleza. Este tipo de trabalho tem muito mais conteúdo aos meus olhos, por mais que a estética visual não seja a mais agradável.