
A era democrática tem por orígem do gosto, constantes formais que -hegemonicamente - apontaram para um polo emissor do belo: o Renascimento. A presença do grotesco na arte choca por propor um contrafluxo ao que era regra. Provavelmente Goya tenha rolado a pedra. Se hoje a "transgressão do belo" representa um franco desafio aos nossos condicionamentos perceptivos, a arte por sua vez, pode não necessariamente " parecer com arte". A retina dos medias esbarra nessas tendências, geralmente incorporadas à cultura em detrimento à resistência que encontram nos seus cidadãos de bem. Com efeito, numa sociedade incapaz de superar suas contradições, o estímulo visual analgésico surge refrescante à cada dia e perpetua-se à medida que fabrica nossos hábitos de consumo. Posso não gostar das inflexões de Joel Witkin, porém me incomoda mais a idéia de que um gosto particular, por mais requintado que queira ser, venha a legitimar o instrumento crítico capaz de problematizar o procedimento artístico . A cultura produziu a neurose, Witkin arranjou-lhe significados sensíveis.